terça-feira, 20 de março de 2012

Guia de Sobrevivência Num Novo Trabalho

Por: Sílvio Celestino é Sócio-Fundador da Alliance Coaching 



Hoje é o aniversário do meu primeiro dia de  trabalho no mundo corporativo real. Faz tanto tempo que praticamente perdi a  conta dos anos…Mas nunca vou me esquecer de como me senti naquela ocasião.  Queria poder falar que me senti nervoso e inseguro, mas estaria apenas floreando  aquele momento.
A verdade é que, lá no fundo, estava mesmo era  assustado. Diria até um pouco apavorado. E se fracassasse? E se aqueles anos  todos de colégio e universidade acabassem não dando em nada além de um baita  fracasso? Afinal, havia sido contratado como coordenador de vendas numa grande  multinacional, a centenas de quilômetros de minha cidade natal. E, cá entre nós,  o diploma de Administração de Empresas obtido numa das melhores universidades do  País não havia me ensinado absolutamente nada sobre aquilo para o qual havia  sido contratado.
É isso mesmo, estava justificadamente assustado.  Mas quer saber de uma coisa? Cada vez que mudei desde então – seja galgando  posições, alternando funções, mudando de cidade ou mesmo de companhia –, era a  mesma ladainha: altas expectativas e medo.
Enquanto não havia nada de errado em ter um pouco de medo, a questão-chave  era o fato de não ser tão óbvio como lidar com tal situação. Mesmo porque é  possível estabelecer expectativas demasiadamente altas e cair do cavalo. Por  outro lado, se você é honesto quanto ao que não sabe, pode acabar com todo mundo  se perguntando: “Por que foi mesmo que o contratamos?” É uma questão de bom  senso, certamente, mas poderia ser enfrentada com mais conhecimento e  habilidade.
Ah, se naquela época eu contasse com um Guia para  Sobreviver num Novo Trabalho possivelmente a história teria sido outra. Se hoje fosse elaborar um colocaria nele 4 passos básicos para quem se lança nesta aventura :
Passo 1: Aprenda a arte de ser uma esponja
Existe uma arte de ser genuíno sobre o que não se sabe sem parecer um  incompetente que, em primeiro lugar, nunca deveria ter sido contratado. Como se  faz isso? Agindo como os mais sabidos CEOs e outros executivos quando aparecem  para trabalhar no primeiro dia, isto é, anunciando com firmeza que “ser uma  esponja” é a prioridade número 1.
Ter uma clara compreensão do funcionamento das coisas e o que os vários  stakeholders esperam de você DEVEM ser, sem dúvida, a prioridade de qualquer um  que comece num novo emprego. E isso é uma desculpa perfeita para não ter a  mínima ideia do que está rolando, ou mesmo como vai fazer para desempenhar o  trabalho. Acredite ou não, isso funciona. E funciona porque faz sentido.
Apenas para que fique claro, não force a barra agindo dessa forma. Não  estamos aqui falando de fazer uma grande encenação e sair fazendo perguntas  sobre cada detalhe. Naturalmente, espera-se que você tenha certo nível de  competência e compreensão sobre a sua função. Portanto, em vez de ficar  indiscriminadamente concordando com a cabeça quando não tem a mínima ideia do  que estão falando, seja uma esponja. Apenas se assegure de escutar e aprender,  pois somente a partir daí é que você efetivamente vai agir como uma esponja.
Passo 2: Planeje como impactar
Enquanto for uma esponja, a coisa mais importante que precisa determinar – além das questões básicas sobre o seu trabalho, o que esperam de você e como  desempenhar a sua função – é como causar um impacto real. Você tem algum  tempo para isso, portanto, não atropele as coisas. Mas, antes que seja tarde, é  bom relembrar às pessoas que você não é apenas uma esponja, e que as razões  originais pelas quais foi contratado continuam válidas. Afinal, você é capaz de  produzir resultados. Assim, a melhor forma de fazer isso é estabelecer uma meta  e planejar alcançar algo razoavelmente visível e impactante.
Por exemplo, na minha primeira iniciativa em vendas, estabeleci uma meta de  fora de estoque 0% nos pontos de venda. Bem, verdade seja dita, acabei  fracassando. Alcançamos 2,5%, mas, veja só, a chefia gostou da maneira com que  agressivamente defini a meta para o time. E isso acabou ajudando a manter meu  chefe imunizado em relação ao que se denomina remorso de comprador.
Planejar como impactar também é ótimo por outra razão. Como você sabe, o medo  adora um vácuo, do tipo quando está se sentindo sem foco, confuso e geralmente  sem saber o que fazer. Isso, portanto, vai lhe oferecer algo em que se agarrar  e, ao mesmo tempo, “fazer acontecer”. Só contabilizo benefícios.
Passo 3: Desça do seu pedestal
Essas altas expectativas sobre as quais falei anteriormente geralmente não  vêm do seu chefe ou de outras pessoas da companhia. Elas costumam vir de você  mesmo. Maníacos por resultados, profissionais ou apenas pessoas simplesmente  competentes têm o péssimo hábito de se colocar em maus lençóis ao se içar em  pedestais.
O problema com isso é que você coloca uma pressão desnecessária sobre si  mesmo, o que lhe dá maiores chances de se dar mal, cometer erros de julgamento e  coisas do gênero. Além disso, a maioria dos trabalhos já é desafiadora o  suficiente sem essa carga adicional de pressão irracional que vem de dentro de  sua cabeça.
E tem mais. Quando você estabelece expectativas irracionais para si mesmo,  isso não fica apenas na sua mente. Por ser uma forma de grandiosidade, acaba  transparecendo nos seus compromissos com os demais. Compromissos que,  francamente, não fazem sentido estabelecer. É o seu ego passando cheques que sua  capacidade não tem como cobrir.
Portanto, saia do pedestal. A realidade já é suficientemente desafiadora.
Passo 4: Encare o seu medo, não a sua ansiedade
A maior parte das pessoas acha que medo e ansiedade são a mesma coisa, mas  não são, não. Eles são completamente diferentes, e você necessita compreender a  diferença. Medo é uma resposta emocional em relação a uma ameaça real ou  percebida. Ansiedade é uma apreensão sobre algo que você está antecipando ou  mesmo sobre algo desconhecido.
O que isso significa? Deixe-me explicar no seguinte contexto. Se você está  com medo ou preocupado porque não conta com as habilidades ou a capacidade para  fazer o trabalho, isso é real e é algo com o qual você precisa lidar. Encare o  fato, confronte-o, determine se é real ou não, e aí bole um plano para resolver  a questão.
Mas, se você está ficando estressado antes do tempo, antecipando todo tipo de “e se…” que ainda não aconteceu e que pode nunca acontecer, você está apenas  construindo uma realidade paralela em sua cabeça e fazendo as coisas ficarem  piores para si mesmo. Não faça isso. Não se estresse com o desconhecido.
Em vez disso, reconheça e se dê conta daquilo do que realmente você tem medo.  Dessa forma, você pode confrontá-lo e determinar se é justificado ou não. Além  disso, se você encarar seu medo, não vai ficar divulgando-o para todo mundo.  Algumas pessoas fazem isso, achando que vai aliviar a tensão e talvez até  conquistar a simpatia dos demais. Não vai. A única coisa que isso vai fazer é  com que você pareça uma pessoa insegura e sem autoconfiança. E isso  provavelmente não era o que a empresa pensou que estava contratando quando  selecionou você.
Em suma: se você é uma dessas pessoas que procuram soluções  rápidas para tudo, esqueça. Esse é um caminho certeiro em direção ao desastre.  Como tudo na vida, a resposta não está num livro ou numa pílula. Certamente meus  longos anos de experiência no universo corporativo podem apoiá-lo, mas você  também vai ter de dar duro por conta própria. É assim que o processo de coaching  funciona. E com ótimos resultados.
Para essa e diversas outras situações, conte comigo.

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