quinta-feira, 12 de maio de 2011

Você conhece algum Pedro Malazarte?

Antonio Lazarini



Os antigos imigrantes italianos contavam a estória de um personagem bastante interessante e bem sucedido. O seu nome era Pedro Malazarte.
Tratava-se de pessoa muito franzina e astuta que sobrevivia dando golpes nos menos afortunados pela inteligência (coisa que hoje já não acontece mais!!!).
Conta uma de suas muitas estórias, que certa vez Pedro viajava por uma estrada e, vendo o dia se acabando, tratou de arrumar um lugar para pernoitar. Como não dispunha de recursos para pagar uma pousada, dirigiu-se a uma fazenda onde pretendia “descolar” um jantar e uma boa cama para passar a noite.
O dono da fazenda, um homem forte, trabalhador, avarento e um tanto quanto inocente, negou-se a simplesmente dar a Pedro o que este queria. Mesmo assim, propôs-lhe que trabalhasse para pagar pela despesa que causaria. Pedro, não querendo gerar desconfiança, logo se adiantou e disse ao fazendeiro que não tinha dinheiro, mas poderia pagar com trabalho. O fazendeiro então o argüiu sobre sua capacidade de trabalhar, dada a sua condição de homem de aparência frágil e que dava sinais de não ser acostumado ao trabalho.
Pedro disse ao fazendeiro que era muito forte, embora não o parecesse, e que o trabalho pesado era sua rotina.
O fazendeiro ficou intrigado e propôs a Pedro uma aposta. Os dois deveriam ir a uma pequena floresta, que ficava na propriedade do fazendeiro, e colher o maior feixe de lenha que pudessem carregar. Se o feixe de Pedro fosse maior que o do fazendeiro, o jantar e a pousada seriam gratuitos. Caso contrário, Pedro teria de partir. Claro que Pedro concordou imediatamente, embora soubesse que não teria a menor chance de vencer aquele homem tão forte e acostumado ao trabalho braçal. E lá foram os dois para a floresta.
O fazendeiro recolhia grossos troncos de árvore enquanto que Pedro apenas arrancava cipós e os emendava, fazendo uma grande corda.
Passado algum tempo, o fazendeiro colocou em seu ombro um enorme feixe de lenha e foi procurar por Pedro. Quando viu que este não recolhera um graveto sequer, apenas ficara emendando cipós, perguntou-lhe pelo feixe de lenha. Pedro, com um olhar de desprezo pelo enorme feixe de lenha que o fazendeiro trazia nos ombros, disse-lhe que não iria gastar energia para recolher feixe tão pequeno. Com aqueles cipós, laçaria toda a floresta, a arrancaria de uma só vez, faria o maior feixe de lenha já visto e o levaria para casa. O fazendeiro, acreditando nas intenções de Pedro e com receio de ver acabada sua fonte de lenha, implorou-lhe que não arrancasse toda a floresta, pois teria muitas dificuldades para sobreviver sem ela. Pedro, triunfante, disse ao fazendeiro que seria misericordioso e não arrancaria a floresta, mas, em contrapartida, não levaria feixe de lenha algum. E o fazendeiro respirou aliviado.
As empresas, os governos, e até a sociedade, estão cheios de Pedros Malazartes. Estão por toda a parte. Basta que prestemos atenção.
Não raro, vemos projetos não serem implementados, embora sejam idéias muito boas, simples e factíveis. Os seus autores, ao buscarem parceiros para sua implementação, dão de cara com os tais Pedros Malazartes corporativos. Estes, inconscientemente ou não, ao tomarem conhecimento de projeto, logo o consideram pequeno e propõem melhorá-lo. Dizem: – Por que fazer tão pequeno se podemos fazê-lo bem maior? – Vamos implementá-lo na empresa toda e não em apenas em sua área! – Este recurso tecnológico já está ultrapassado, vamos colocar o que há de melhor e mais moderno – argumentam. E o autor do projeto, inebriado com tantas melhorias propostas, cai na armadilha feito o fazendeiro.
Desta forma, aquele pequeno projeto, simples e que tinha totais condições de ser bem sucedido, começa a se tornar tão grande quanto sua inviabilidade. Ele caminha mais um pouco e, por fim, é abandonado, perdido em seu custo e complexidade. Não se implementam nem o projeto simples, tampouco aquele “maravilhoso e moderno”.
É interessante de se observar que o projeto foi inviabilizado, estando todos os participantes de acordo com o mesmo. Não houve um “não” sequer. Só “sins”.
Podemos chamar este tipo de comportamento como “a inviabilização pelo apoio”.
Temos de ficar atentos a este tipo de comportamento e cuidar para que os Pedros Malazartes de plantão não triunfem nas nossas empresas e até na nossa vida particular. É preciso deixar claro que as críticas e sugestões de melhoria a um projeto devem ser ouvidas e cuidadosamente analisadas para não perdermos a oportunidade de incorporar importantes contribuições às nossas idéias. Mas não devemos nos descuidar em nenhum momento, ficando atentos às sugestões que inviabilizarão, “pelo apoio”, a implementação de excelentes e oportunas iniciativas. Não nos esqueçamos que os Pedros Malazartes têm cara de bons moços, podem estar até bem intencionados, mas, na verdade, só conseguem emendar cipós.


http://exame.abril.com.br/rede-de-blogs/gestao-de-gente/2011/05/11/voce-conhece-algum-pedro-malazarte/

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