segunda-feira, 16 de maio de 2011

A Pessoa Talentosa Tem Que Ter C.H.A.P.A.



Ao se analisar a evolução do trabalho, atualmente nos encontramos na Era da Informação e do Conhecimento. E, nestes tempos globalizados, nunca se falou tanto em identificação, atração, retenção, apagão, e “guerra” de talentos.
Em ambientes corporativos atuais, onde o trabalho é algo totalmente instável, mutável e volátil, ouve-se cada vez mais que “somente sobreviverão os talentos”, as pessoas talentosas, as pessoas com qualificação para ocupar o lugar para o qual foi contratada e que, com os mesmos recursos que seus colegas, consigam produzir mais e agregar mais valor em comparação com a média.
E quem são estas “feras” que toda corporação deseja?
Antes de mais nada é interessante relatar que a falta de qualificação profissional é o principal desafio para o recrutamento, segundo pesquisa da consultoria Mercer. Já a pesquisa da consultoria Deloitte, feita em 1936 empresas de 60 países, sendo 65 no Brasil, revelou que as duas causas que mais preocupam os empregadores são a retenção dos talentos-chave (51%) e a atração de novos talentos (42%).
No Brasil, a maioria dos jovens não é contratada devido à sua baixa formação. De acordo com a consultoria Heidrick & Struggles, a falta de profissionais qualificados fez com que o Brasil ficasse em 23º lugar em 2007 e, para 2012, iremos para a 25ª colocação.
Se isto é preocupante, está mais do que na hora de as pessoas começarem a se transformar em pessoas talentosas. E como se tornar a “fera” que toda corporação deseja?
Inicialmente, tomando consciência de três palavras extremamente importantes.
A primeira é DOM (do latim donu), que significa presente, dádiva. É algo inato, que nasce com a pessoa. É aquele “algo especial” que lhe permite realizar uma determinada tarefa com extrema facilidade. Geralmente é mais observado nas artes e nos esportes.
Para os antigos romanos, cada ser humano nasce com um dom, uma determinada capacidade que lhe foi ofertada por Deus, um presente divino. Para citar apenas um exemplo, lembro de Pelé, cujo dom era jogar futebol.
A segunda palavra é TALENTO (do latim talentum; do grego tálanton). Na Grécia Antiga, tálanton era uma moeda de ouro ou prata e também uma medida de peso.
Um talento (tálanton) era igual a 60 minas que, por sua vez, equivaliam a 100 drachmas. Como cada drachma variava entre 4,5 a 6 gramas de ouro ou prata, um talento variava entre 27 a 36 gramas de ouro ou prata. Mais tarde, esta unidade foi adaptada ao sistema monetário romano.
O talento era a moeda dos tempos de Jesus, o Cristo. E foi através de uma de suas parábolas, descrita no evangelho de Mateus (Mt 25:14-30) que talento passou a significar uma habilidade humana.
De acordo com a parábola, três pessoas receberam de seu senhor diferentes quantidades de talentos e, sem que soubessem, foram obrigados a prestar contas aos um período de tempo.
Aquele que recebeu cinco talentos aplicou-os nos negócios e gerou outros cinco. Aquele que recebeu dois talentos ganhou mais dois. O terceiro, aquele que recebeu apenas um talento, teve medo e o escondeu: não ganhou nada devido à sua atitude negativa e medrosa.
O talento, como habilidade humana, é desenvolvido através de treino, determinação, persistência, disciplina, obstinação, etc. É pelo talento que aprimoramos o nosso dom, tornando-nos capazes de realizar tarefas que, além de trazer resultados, nos tornarão distintos, diferentes, não-ordinários, extraordinários.
E aqui também se incluem leituras, pesquisas, freqüência a cursos, congressos, workshops para aprimorar o conhecimento e as habilidades.
Falaremos sobre isso mais adiante.
Voltemos ao exemplo de Pelé, que tinha o dom de jogar futebol.
Por que Pelé se tornou um talento? Porque treinava, treinava e treinava. E, por seus dribles inesquecíveis, jogadas de mestre e gols de placa, fizeram com que recebesse o título de atleta do século XX, inicialmente pela revista francesa L’Equipe (1980) e depois pelo Comitê Olímpico Internacional (1999).
Daiane dos Santos, Albert Einstein, Michael Jordan, Pavarotti, Tiger Woods, Santos Dumont, Silvio Santos… Todos eles, assim como eu e você, temos um dom que, ao ser desenvolvido, são transformados em talentos. É isto que faz as pessoas serem conhecidas e reconhecidas.

O dom e os talentos transformam a pessoa comum na pessoa certa, no lugar certo e na hora certa.
A terceira palavra é VOCAÇÃO (do latim vocare), que significa chamamento, ato de chamar.
É aquela voz interior, que vem da alma. É a voz que nos diz o devemos fazer: a que nos ajuda a tomar a decisão mais acertada (intuição??); a que faz com que sintamos prazer em realizar determinada tarefa e, enquanto a fazemos, ela se torna fácil, por mais árdua que seja.
“Põe toda a tua alma, põe todo o teu corpo, naquilo que estás fazendo agora”, diz um ditado hindu. Quem segue sua vocação está sempre feliz com o que faz, pois encontrou significado para a sua atividade.
Quem segue sua vocação, não trabalha, se diverte, pois encontrou a razão, o significado, para tal.
Quem segue sua vocação, tem sempre um brilho no olhar, desde o início até o fim de seu trabalho.
Quem segue sua vocação, nunca está cansado, está sempre disposto física e mentalmente.
Quem segue sua vocação, renuncia a muitas coisas para ser feliz. Como Sidarta Gautama, o Buda, um príncipe que renunciou a toda a sua riqueza para divulgar suas idéias e sua filosofia de vida.
Quem segue sua vocação, está sempre auto-motivado e tem energia para vencer e superar os mais difíceis desafios.
Enfim, quem segue sua vocação, descobre, pelo auto-conhecimento, sua missão de vida.
Esta comprovação foi observada pelo psicólogo americano Mark Albiou. Ele estudou 1500 jovens recém egressos de suas faculdades e em início de carreira.
Deste total, 83% dos jovens buscavam realizar-se financeiramente. Os outros 17% buscavam fazer algo que lhes desse prazer, fazer algo que gostassem, que lhes trouxesse satisfação, ou seja, seguir sua vocação.
Após vinte anos, apenas 102, dos 1500, alcançaram o sucesso em suas carreiras, inclusive o sucesso financeiro. Destes 102, 101 pertenciam ao grupo dos 17%.
Quem faz o que gosta, o que lhe dá prazer, tem a tendência de fazer cada vez melhor, de obter melhores resultados e ser cada vez mais reconhecido.
A pessoa certa, no lugar certo e na hora certa, que escuta sua voz interior, escuta o chamamento da sua alma, é aquela que se torna a pessoa certa, no lugar certo, na hora certa e com a razão certa, como bem afirma o consultor Robert Wong.
Finalmente, agora podemos voltar à pergunta: quem é a pessoa talentosa que toda corporação deseja?
É aquela que sabe qual é o seu dom, aprimora e potencializa seus talentos e segue sua vocação; é o resultado do produto: dom X talento (s) X vocação.
C.H.A.P.A. – Ampliando o conceito de C.H.A.
Muito já se escreveu sobre a competência pessoal no mundo do trabalho: o tão decantado C.H.A., ou seja, o produto do conhecimento (saber fazer) X habilidade (poder fazer) X atitude (querer fazer).

CONHECIMENTO (saber fazer) é aquilo que recebemos sobre certo assunto, matéria, tema ou questão, através de aulas, cursos, leituras, exemplos, vivendo, etc. Embora conhecimento seja mais teoria, é considerado a base de tudo.

HABILIDADE (poder fazer) se traduz nas experiências que se adquire ao se fazer as coisas na prática, no dia-a-dia, dentro do campo de atuação do profissional. Aqui é que se aplica o conhecimento.

ATITUDE (querer fazer) é ter motivos e razões para o trabalho a ser realizado. É algo muito mais mental do que teórico e prático. Embora um pouco estático, este conceito apresenta uma dinâmica muito interessante. Quantas e quantas vezes, eu, você, todos nós, tivemos que ter (tomar) uma atitude para buscar um novo conhecimento e aprimorar uma nova habilidade?
È o caso daquele médico que resolveu estudar música como hobby e tornou-e um exímio violinista, fazendo desta atividade uma segunda profissão. Ele teve atitude, em primeiro lugar, antes de buscar o conhecimento e dsenvolver a habilidade musical.
Desta forma, muitas vezes a sequência atitude→conhecimento→habilidade acaba se tornando um ciclo onde as letras passam a ter outra ordem: de C→H→A para A→C→H, tornando o conceito bem mais dinâmico.
Qualquer um de nós conhece pessoas que são verdadeiras “enciclopédias” ambulantes, possuidoras de imensas habilidades, mas que não possuem atitude. E como estas três letras também constituem um produto (competência = conhecimento X habilidade X atitude), quando qualquer delas inexistir, o produto será zero. Isto caracteriza os “postes”, aquelas pessoas que não saem do lugar, não evoluem, e ainda ficam reclamando que o mundo conspira contra elas.
Para Walter Herrera, o aperfeiçoamento das habilidades, a maximização do conhecimento e a racionalização das atitudes, constituem a “excelência”.
Estas considerações se fizeram necessárias para que avancemos no conceito de C.H.A. para C.H.A.P.A.
Mas, em primeiro lugar, vamos a dois, entre tantos, significados de chapa:
  • peça metálica do fogão, lisa, plana, resistente ao calor, sobre a qual se cozem certos alimentos; É sobre uma chapa aquecida que se consegue uma transformação, onde se pode derreter o queijo, tornar líquida a manteiga ou a margarina, fritar um bife ou um ovo, etc.
  • companheiro, amigo. Isto foi uma gíria nos anos 60 que, até hoje, as pessoas mais velhas ainda a empregam ao se referir a um amigo: “E aí, meu chapa. Tudo bem?”
Ao escolher a palavra CHAPA, agreguei ao conceito de CHA mais duas letras.
O P significa princípios e valores, aquilo que constitui a base do comportamento das pessoas. É o seu modo de ser, calcado em ditames morais, preceitos, que caracterizam e se revelam nas suas atitudes. E a lista é muito longa: confiança, respeito, transparência, comprometimento, flexibilidade, resiliência, perseverança, ética, honestidade, integridade, motivação, cooperação, empatia, perdão, etc., apenas para citar alguns.
De que adianta a pessoa ter C.H.A., se suas atitudes não forem calcadas em princípios e valores? De que adianta, por exemplo, você falar sobre sustentabilidade ambiental, se você é daqueles que joga latinhas e bitucas de cigarro no meio da rua?

O A final, significa ambiente de trabalho, o qual lhe permite exercer o seu C.H.A., agora agregado pela letra P.

Em dias e ambientes globalizados, onde tempo (fusos horários) e espaço (fronteiras entre países) deixaram de existir, cada vez mais se torna fundamental um conhecimento mais pleno do ambiente onde se trabalha. Por exemplo: um engenheiro de produção deve conhecer ações de venda, de marketing, de finanças, de administração que estejam diretamente relacionadas à sua atividade.
Algumas empresas que adotam o job rotation estão exatamente aplicando este A para que seus colaboradores ampliem suas visões do negócio onde estão incluídos.
Portanto, caro leitor ou leitora, se o Universo está em constante expansão, se as pessoas estão constantemente crescendo para se tornarem cada vez melhores, é mais do que natural que conceitos também se ampliem, seguindo o dinamismo existente nos tempos atuais.

E se você não pensar em crescer, em mudar, em se transformar para melhor, em se “ampliar”, em ter C.H.A.P.A., só posso lhe dizer:

- Cuidado, meu chapa, pois sem C.H.A.P.A. você será rapidamente fritado”.

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