terça-feira, 13 de setembro de 2011

Crise: a hora dos grandes executivos

  
Por Celso Campos
Consultor e chefe da
Apex Executive Search



É sabido que crise existe sim, e está à nossa frente. Mas já faz muito tempo que ouvimos falar em crise. Aliás, superar crises é o que fazemos durante toda a nossa existência, sejam elas de saúde, sentimentais, familiares, sociais ou profissionais. Os momentos de grande decisão também são exemplos de crise: a difícil escolha da profissão e, em seguida, a de ser patrão ou empregado, só para começar. Precisamos superar estas crises para seguir em frente, mas muitos de nós preferem fazer como a hiena Hardy, do desenho Lippy e Hardy, que ficou famosa porque repetia, sempre que havia um problema: “Oh, dia! Oh, céu! Oh, azar! Isso não vai dar certo...”. É muito comum entre nós, seres humanos, colocar a culpa da nossa acomodação em alguém ou na crise do momento. Já é hora de virar o jogo.
Quando eu estava no início de minha carreira profissional, na segunda metade dos anos 70, Olavo Setúbal, então prefeito de São Paulo e presidente do Grupo Itaú – dono da Duratex e da Deca, onde eu era engenheiro –, disse, em seu discurso de fim de ano, que “é nos momentos de crise que devemos investir, pois quando os outros repararem, nós já estaremos na frente”. Foi pensando assim que, num momento de sua vida profissional, ele se afastou da Deca a pedido de seu tio e levantou um pequeno banco até torná-lo, hoje em dia, na maior instituição financeira do país.

Um dos casos que mais me chamaram a atenção – e que ensina uma lição sobre como lidar com uma crise – foi o do empresário que perdeu toda a estrutura da sua empresa na crise das enchentes no Vale do Itajaí, no ano passado. Em vez de demitir os funcionários, cujas casas também haviam sido atingidas, ele firmou um pacto coletivo: não mandaria ninguém embora, contanto que eles trabalhassem para reerguer a empresa e colocá-la novamente em marcha.
Situações como esta mostram que crise é oportunidade, e gente com visão empreendedora e disposição deve estar preocupada sim com o momento atual, mas também precisa enxergar que é hora de investir no novo, de desbravar as possibilidades para encontrar novas fronteira para o negócio, e de se preparar para as oportunidades que o futuro próximo reserva.

Às vezes, no desespero da falta de dinheiro, de vendas ou de oportunidades, as empresas demitem, e se esquecem do quanto investiram no treinamento de pessoal. Além disso, é perda de investimento social e de brain, de tudo que o profissional acumulou trabalhando segundo a cultura daquela empresa. Vale pensar também no ônus de repor esse profissional. Quanto tempo levará para o substituto ser treinado? Quando terá experiência suficiente? Quanto tudo isso vai custar? Ainda vem o pior: o capital de conhecimento e experiência que um profissional carrega quando é demitido pode, muito rapidamente, ser aproveitado pelo maior concorrente.

A não-demissão é um investimento sobre o investimento passado, sobre toda a integração, a adequação à cultura da empresa e sobre todo tipo de treinamento já realizado em sala de aula ou na empresa, sejam visitas e cursos ou mesmo para aprender a operar uma máquina. O ideal é fazer como a Weg, de Jaraguá do Sul: aproveitar o momento para desenvolver o corpo pensante da empresa. Treinar, educar, desenvolver. E, por outro lado, investir em fortalecimento de marca, ressaltando principalmente a responsabilidade social das instituições, seja por meio de investimento na comunidade ou mesmo mantendo seus funcionários empregados.
Otimizar processos e valorizar as ideias inovadoras de quem faz parte do time de uma empresa é regra em qualquer tempo, mas mais ainda nos meses de crise. E, para completar, é a hora certa de deixar crescer os grandes empresários, homens e mulheres de visão. Se é na guerra que se conhecem os grandes generais, é na crise que se conhecem os grandes executivos.

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